segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Objeto simulador vai ajudar no diagnóstico do câncer de mama em mulheres com silicone

Implante de silicone prejudia diagnóstico
do câncer de mama
Pelo menos 90% dos implantes de silicone feitos no Brasil decorrem de uma razão meramente estética. No entanto, especialistas alertam que quando colocado nos seios, o material pode prejudicar o diagnóstico de exames que detectam o câncer de mama, principalmente em mulheres mais jovens.

Foi justamente a dificuldade dos profissionais em interpretar os exames feitos em mulheres que têm silicone nos seios que motivou a criação, por pesquisadores de Física Médica da Universidade Federal de Sergipe (UFS), de um objeto simulador de mama com implante de silicone. A intenção é diminuir o número de diagnósticos ‘falso negativo’, dados principalmente quando o nódulo não está visível nas imagens geradas por ultrassonografia ou radiologia.


À esquerda, o objeto simulador para mamografia em ultrassom;
à direita, o objeto simulador para mamografia em raio-x (Fotos: Divulgação)
Isto ocorre porque o implante de silicone prejudica a qualidade das imagens de exames de ultrassom, o meio mais recomendado para aquelas que têm menos de 40 anos. O material acaba criando uma espécie de véu sobre o tecido mamário, ocultando possíveis nódulos. O exame de raio-x, mais eficaz para tanto, expõe a paciente a um nível maior de radiação e por isso é recomendando às mulheres dentro da faixa geral de detecção do câncer mama – acima dos 40 anos.

A professora Divanísia do Nascimento Souza, do Departamento de Física da UFS, e o recém-doutor na área Fábio Alessandro Rollembreg criaram dois modelos de simuladores para serem testados naqueles dois tipos de equipamentos. O primordial, conforme explica Fábio, era que o objeto reproduzisse a mama da forma mais fiel. Mas, além disto, eles conseguiram um simulador ainda 70% mais barato dos que já são utilizados no mercado.

“Um dos desafios desse estudo foi justamente encontrar um material diferente do que já é utilizado para criar simuladores. Nós queríamos algo que além da forma pudesse ter características idênticas à mama. Encontramos a parafina gel para o simulador no aparelho de raio-x e a gelatina bovina para o aparelho de ultrassom”, detalha Fábio. Ele revela ainda que durante os testes descobriu-se que o silicone reduz em até 30% a visualização do tecido mamário.

O simulador foi aprovado nos testes feitos com especialistas. “Eles viram que o dispositivo poderia ser utilizado com o propósito do objetivo do trabalho: avaliar a interferência do implante no tecido mamário, comprovando a característica semelhante à mama normal”, acrescenta Fábio.

Produção
Fábio Alessandro e a Prof. Divanízia do
Nascimento (Foto: Diógenes de Souza)
Além dos médicos radiologistas, o trabalho teve grande repercussão também na comunidade científica. A professora Divanísia afirma que o estudo que gerou o simulador para aparelho de raio-x foi aprovado para publicação em um periódico internacional. O mesmo deve ocorrer com o de ultrassonografia, que está em fase de apreciação. “Agora queremos criar um só simulador que sirva para os dois tipos de exame”, avisa a docente.

Para entrar em processo de produção em larga escala e ser utilizado por profissionais da área, a professora explica que basta que alguma indústria se interesse em fabricar a peça. “A gente precisa aprimorar o simulador para exame de ultrassom, para depois ele poder ser fabricado, pois por ser biodegradável exige uma série de condições para preservação. Já o simulador para a mamografia está pronto. A gente só vai fazer a patente e ver essa possibilidade de uso industrial. Aí vai ser só uma empresa se interessar”, destaca.

Por Diógenes de Souza

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