quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Estudo descreve perfil das vítimas de queimaduras em Sergipe

Perfil de vítimas pode direcionar melhor
as políticas de prevenção dos acidentes
(Foto: Portal Infonet)
Jovem de até 25 anos, do sexo masculino, proveniente do interior do Estado e que se queima acidentalmente com líquidos quentes. Este é o perfil dos pacientes vítimas de queimaduras atendidos pelo ambulatório de Cirurgia Plástica do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), em Aracaju, conforme estudo desenvolvido por pesquisadores de Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe (UFS) em 2009.

É a primeira vez que uma pesquisa descreve as características das vítimas desse trauma que, segundo estimativas, acomete em torno de um milhão de pessoas por ano. Em 2020, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as queimaduras vão ultrapassar as doenças infecciosas como a primeira causa de morte no planeta. Os dados causam espanto, mas de acordo com a professora Edilene Curvelo Hora, que chefiou os trabalhos junto à professora Regina Cardoso e a estudante Catiane Tavares, poderiam ser menos preocupantes.

Prof. Edilene Curvelo Hora destaca
centralização do atendimento no Huse
“A chave de tudo é a prevenção. As políticas públicas direcionadas para isso devem ser intensificadas, e devem focar não só as vítimas e suas famílias, mas a população em geral. Não só como evitar, mas como se cuida dos ferimentos, porque muitas vezes a pessoa não morre da queimadura, mas da complicação depois dela”, explica Edilene.

O levantamento foi realizado entre os meses de agosto e dezembro do ano passado com 100 pacientes que deram entrada no ambulatório. Segundo a professora, o trauma por queimadura reproduz o perfil comum aos demais tipos de acidentes, como quedas ou no trânsito, por isto não houve surpresa quanto à predominância do sexo masculino destacando-se nas estatísticas.

O que chamou a atenção, por outro lado, foi o tipo de queimadura predominante. Dentre os três tipos mais recorrentes a queimadura térmica (por líquidos quentes ou chama direta) – as outras são por eletricidade ou químicas – apareceu em 81% dos casos. Em 94% deles o motivo foi acidental e ocorreu em casa (58%), o que assevera, portanto, que é algo possível de ser evitado. “Nesses casos, quando você faz uma análise mais aprofundada, constata que é uma coisa que pode ser prevenida e que também aponta para um problema social. Às vezes as crianças acometidas moram em casas de um cômodo, sem espaço para brincar, ou mesmo acabam ficando sozinhas em casa”, descreve a professora.

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Dos pacientes contabilizados, pelo menos 36% necessitam de atendimento por mais de duas vezes a cada mês. Os procedimentos, que envolvem uma equipe multidisciplinar – médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos etc. –, são responsáveis pelos maiores gastos dentro do serviço público de saúde. “O problema da saúde pública, às vezes, é que a população não enxerga a quantidade de coisas que podem ser prevenidas e, se assim fosse, os ambulatórios também não seriam sobrecarregados”, acrescenta Edilene Curvelo.

Capital
No Huse, 55% dos queimados vieram de outros municípios sergipanos e até da Bahia; 45% são da capital sergipana. A centralização do atendimento é outro aspecto que encarece o atendimento e põe em xeque a necessidade de profissionais especializados serem alocados em outras unidades de saúde.

O estudo evidenciou, ainda, que outros tipos de queimaduras somam apenas 19% dos casos. Depois do domicílio, as queimaduras foram mais freqüentes em público, em 30% dos casos, e em outros locais, em 13% das ocorrências. Nenhum dos 100 pacientes entrevistados chegou a óbito.

A professora Edilene reforça que o estudo é inédito e que, por ter sido concluído há algumas semanas, está em apreciação para ser publicado em periódicos científicos da área de saúde. Por ter contado com o apoio da Secretaria de Estado da Saúde (SES), o órgão receberá uma via do relatório final. Além dos projetos de extensão que podem ser desenvolvidos na própria UFS, espera-se que, munidos desses dados, os agentes do Poder Público foquem em ações mais específicas de educação e prevenção, a fim de traçar um novo cenário nas estatísticas.

Por Diógenes de Souza

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