Praça Fausto Cardoso, Centro de Aracaju (Foto: Alberto Dutra/Jornal da Cidade) |
Aracaju ainda está longe de ser uma cidade arborizada. Estudo realizado pela UFS mostra que o índice de área verde pública por habitante é 22 vezes menor do que o adequado. A distribuição desses espaços, no entanto, trouxe a conclusão mais reveladora: a Zona Sul concentra 1.761 árvores ao passo que a Norte apenas 442, uma diferença de 75%.
Projetos paisagísticos, encontrados em boa parte das praças atuais, apenas constituem “espaços que oferecem beleza”. “Nem mesmo coqueiros, palmeiras e os manguezais possuem os benefícios das árvores", afirma a professora do Departamento de Geografia Rosemeri Melo e Souza, que coordenou a pesquisa.
Em 2008, junto com o estudante Wagner Xavier Resende, a professora estudou as praças, canteiros e parques urbanos. A arborização deles cumpre três funções principais: ecológica, estética e para o lazer.
Os benefícios, enumera a docente, vão "desde o sombreamento dos espaços, tornando-os mais agradáveis, passando pela purificação do ar até o amortecimento de sons, o que melhora em várias formas a qualidade de vida da população".
O resultado mostrou que o índice de área verde pública por habitante (IAPV/hab) na capital sergipana, que possui pouco mais de 500 mil moradores, chega a apenas 0,66 m². O ideal sugerido pela equipe científica da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana é de 15 m².
Em um único bairro, o Centro, foram registradas 444 árvores – mais do que toda a Zona Norte. Outras localidades, no entanto, não puderam entrar na lista. Os bairros Jardim Centenário, Olaria, Soledade, Capucho, Palestina, Lamarão, Porto Dantas e Cirurgia (localizados na Zona Norte) e Coroa do Meio (Zona Sul) não possuem áreas verdes públicas.
O trabalho contabilizou 2.647 árvores. Deste total, 58% correspondem ao mata-fome (pithecelobium glaziovvi), a amendoeira (terminalia cattapa) e o oiti (licania tomentosa).
Desigualdades
Intitulada "A Importância das Áreas Verdes Públicas em Aracaju", a pesquisa trouxe um dado novo, mas que caminha junto à constatação da falta do verde. Como a distribuição dessas áreas ocorre de forma irregular, esse fator reflete, portanto, a desigualdade social na espacial, uma vez que a Zona Norte concentra o maior número de bairros carentes.
"É necessário que se repense a função desses espaços públicos. Aracaju está ficando 'pesada'. Está na hora de pensarem em políticas públicas que recuperem o patrimônio arbóreo, que também o tratem com prioridade", diz Rosemeri.
Ao usar como exemplo a reforma de praças que, ao invés de ganharem, estão perdendo árvores, mesmo em uma época de grande preocupação ambiental, o estudante Wagner Xavier vai mais longe. "A visão de que Aracaju é uma cidade planejada constitui-se num equívoco. Ela já foi planejada, o cenário atual não contempla essa característica".
Rosemeri cita o exemplo da Praça Fausto Cardoso, que recentemente foi reformada e, segundo ela, transformou-se num verdadeiro "deserto".
"Na verdade há uma preocupação maior em impermeabilizar a superfície, o que implica na redução de custos de manutenção das árvores. Essa é uma visão reducionista de vários gestores ao longo dos anos".
Diógenes de Souza (estagiário) e Luiz Amaro
Agência UFS de Divulgação Científica
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