sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Qual a imagem da prostituição? Estudo da UFS ouve 75 pessoas

A prostituição feminina sempre foi um tema marcado por preconceitos e estigmas. Mesmo conhecida como uma das profissões mais antigas do mundo, ainda é possível identificar que a prática do "sexo por dinheiro" é vista com ojeriza por parte da sociedade. Trazendo essa constatação para perto de nós, estudo realizado pela UFS mostra como a imagem da prostituição continua recebendo um olhar repressivo e como as próprias meretrizes enxergam a profissão.


Baseado em 12 perguntas abertas, o estudo ouviu 66 pessoas de 16 bairros de Aracaju. As três primeiras perguntas revelam o tom da pesquisa. Elas tratam do julgamento moral da prática (17 pessoas julgaram como “coisa ruim”, “absurda”), dos motivos que levam à prostituição (12 associaram à “falta de dinheiro”) e dos sentimentos negativos relacionados ao exercício da profissão (dez avaliações demonstraram “indignação”, “desgosto”).
Quando os questionamentos chegam ao grupo das prostitutas (nove, no total), o tema recorrente resvala no preconceito que cerca a profissão. Oito delas afirmaram ser vítimas. A justificativa para esse julgamento da sociedade seria a idéia de que a prostituição constitui-se numa forma fácil de conseguir dinheiro e as mulheres o fazem por um desvio de conduta.

“Há um grande julgamento moral quando se toca nesse tema, por isso o preconceito é muito presente”, explica Maíra Lima, estudante que realizou o trabalho sob orientação do professor Marcus Eugênio Oliveira, do Departamento de Psicologia. A pesquisa foi premiada como destaque na categoria “Iniciação Científica” durante congresso da Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso).

Dupla identidade

Outro aspecto apreendido pelo estudo, no tocante ao preconceito, reflete-se diretamente no cotidiano dessas mulheres. Trata-se da dupla identidade. “Muitas revelaram ser difícil encarar o fato de ser prostitutas o tempo inteiro. Na profissão elas não podem ter pudores, mas em outros núcleos sociais elas têm que se negar e adotar uma outra postura”, revela Maíra.

“Elas só assumem a condição de prostitutas quando estão nas ruas. Durante o dia elas assumem uma outra postura. Este é um fator considerado por algumas para ser contra a legalização”, completa o professor Marcus Eugênio.

Essa constatação traz a tona algo que não é novidade: todas as mulheres, se tivessem outra opção, sairiam da condição de marginalidade em que se encontram.

“O que elas ganham nas ruas é muito pouco. Muitas chefiam famílias, tiram dos programas a sua sobrevivência. Sentem vergonha, claro, mas é uma tentativa de sobrevivência em uma sociedade que oferece oportunidade para poucos”, diz a estudante.

Cidadania

Diante da situação em que atuam as profissionais do sexo, muitas vezes o preconceito assume a forma de violência física. Garantir os direitos básicos poderia injetar ânimo num campo às vezes esquecido. A legalização da profissão seria um caminho, exceto para 39 pessoas ouvidas.

“Mais da metade das pessoas entrevistadas, escolhidas aleatoriamente, declararam ser contra", diz Maíra. Já entre as prostitutas, seis mostraram-se favoráveis. As que discordaram tomam como justificativa o possível reforço do preconceito, pois a medida exigiria que elas afirmassem a sua identidade até então colocada às escondidas.

Muitas delas, inclusive, revelaram sofrer represálias por homens e mulheres. “Elas são estigmatizadas porque ameaçam o modelo de família e a fidelidade, por isso são atacadas nas ruas”, ressalta Marcus. Já os homens, lembra o docente, quando são violentos, o fazem ao realizar os programas.

Participantes

Entre os componentes que representam a sociedade, contam-se 35 homens e 31 mulheres, com idades entre 16 e 73 anos. O nível de escolaridade vai desde os não escolarizados até os pós-graduados, mas os maiores grupos concentram 22 pessoas com nível médio completo e 11 com superior incompleto.

Do conjunto das prostitutas, cuja área de atuação é a Orla de Atalaia, a idade varia entre 17 e 44 anos. Quanto ao grau de instrução, cinco delas responderam ter o ensino fundamental incompleto, uma o ensino fundamental completo e três não finalizaram o ensino médio. O perfil aponta ainda que apenas quatro delas nasceram em Aracaju. O tempo de vida nas ruas compreende quatro meses a pouco mais de dez anos.

Diógenes de Souza (estagiário) e Luiz Amaro, publicada originalmente em 01/07/2009, no Portal UFS
Agência UFS de Divulgação Científica (comunica@ufs.br)

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