sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Equipamento promete melhorar preparo e rendimento do caranguejo


Preparo do caranguejo ainda é
manual e demorado (Foto: Emsetur)
O caranguejo está para Sergipe assim como o acarajé está para a Bahia. Tanto que mesmo exigindo certa habilidade na hora da degustação, ele é provado por 10 entre 10 turistas que visitam a capital sergipana.

Nos diversos restaurantes que servem a iguaria não faltam opções; elas vão desde o animal inteiro, para ser quebrado, até um delicioso pastel. No entanto, na maioria das casas que vendem o crustáceo o processo de preparo ainda é manual e demorado.

Normalmente o caranguejo recebe um golpe de faca no meio do casco. E isso se faz um a um. No entanto, tal medida acaba gerando certo stress nos animais e isso colabora para que a carne fique grudada na carapaça, sendo ainda mais difícil de ser retirada.

Pesquisadores da área de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Sergipe (UFS) conseguiram criar um equipamento que vai abreviar todo esse processo, gerando um ganho maior em toda a cadeia produtiva e com baixo custo.

Trata-se do Sistema Inteligente de Atordoamento de Crustáceos , ou SIAC. Conforme explica a professora Maria Lucia Nunes, coordenadora do projeto, o princípio utilizado para a criação desse aparelho tem a mesma finalidade das pistolas pneumáticas utilizadas no abate de bovinos.

SIAC insensibiliza o crustáceo, que
morre "sem sentir dor" (Fotos: UFS Ciência)
“Ele dá um pequeno choque elétrico que insensibiliza o caranguejo, deixando-o em letargia e podendo, a partir daí, ser cozido. É como se ele morresse sem sentir dor”, explana.

Dessa forma, quando o crustáceo é cozido a carne consegue ser retirada integralmente. "Tanto o rendimento quanto a coloração do produto final melhoram, fora isso é muito mais rápido que o método de preparação convencional”, acrescenta a pesquisadora.

Estima-se que o aproveitamento seja 5% maior. Apesar de parecer pequeno, esse índice pode representar muito para quem vende em grandes quantidades.

“O consumo em Aracaju é de, em média, 100 mil unidades por mês. Se você multiplica essa melhoria em tal proporção, constata que é muita coisa”, justifica Nunes. “O caranguejo é um recurso pesqueiro de grande importância econômica social em Sergipe. O impacto vai atingir o catador, o comerciante e o consumidor”, ressalta.

Desenvolvimento

Prof. Maria Nunes aperfeiçoou o
protótipo; agora, só falta a atente 
Os primeiros estudos para o desenvolvimento do SIAC (que se assemelha bastante a um tanquinho de lavar roupas) foram realizados por uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), da qual a professora fazia parte. Mas o protótipo era dez vezes mais caro e precisava ser fixo.

O equipamento aperfeiçoado pelos pesquisadores da UFS, no Laboratório de Produtos Alimentícios, teve parte dos trabalhos realizados com estudantes e professores do curso de Engenharia Elétrica. Os estudos demoraram quatro anos.

“O nosso equipamento já está pronto para venda, mas antes precisamos patenteá-lo. A partir disso levaremos para restaurantes e cooperativas”, explica Maria Lucia. A intenção de aperfeiçoá-lo serviu justamente para torná-lo acessível, principalmente às comunidades e cooperativa de catadores.

Se comercializado, ela estima que o SIAC custe, completo, de R$ 2 a R$ 3 mil. Apenas o sistema elétrico pode sair por R$ 800. “Em uma semana esse investimento é recuperado”, avisa.

Por Diógenes de Souza

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