Gravidade do trauma não abala auto-estima dos pacientes atendidos no Huse (Foto: Marco Viera/SES) |
Isso porque, contrariando a tese de que a alteração da aparência por conta de uma queimadura leva a pessoa a conviver com sentimentos de infelicidade, um estudo da Universidade Federal de Sergipe (UFS) constatou que os sergipanos que foram vítimas desse tipo de trauma - que atinge pelo menos um milhão de pessoas no Brasil e de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2020 deve ultrapassar as doenças infecciosas e ser a primeira causa de mortes no planeta – acabam o tratamento ambulatorial sem abalo algum na auto-estima.
Segundo a pesquisa “Queimadura: auto-estima dos pacientes acompanhados ambulatorialmente”, 45% dos pacientes com idade entre 15 e 25 anos atendidos em 2009 no Ambulatório de Cirurgia Plástica do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), o maior do Estado, deixam a unidade com a auto-estima elevada. Acima dos 36 anos, essa avaliação positiva de si mesmo é ainda maior.
Profa. Edilene Curvelo Hora, que coordenou os estudos (Foto: Blog UFSCiência) |
O índice utilizado para avaliar os pacientes é o da Escala de Auto-estima de Rosemberg, que vai de 0 (melhor auto-estima) a 30 (pior auto-estima). Os pacientes mais jovens atingiram 6,56 pontos. As vítimas com idade entre 26 e 36 anos – 35% dos entrevistados - atingiram média de 9,86 pontos. O grupo com idade acima de 36 anos (20% do público), com 0,75 pontos.
O resultado, de acordo com a professora de Enfermagem Edilene Curvelo Hora, que coordenou os estudos desenvolvidos pela estudante Alanna Gleice Fontes, foi tomado por surpresa. “Nossa hipótese era a de encontrar pessoas com a auto-estima baixa. A queimadura é um trauma físico, mas compromete o emocional. Às vezes a pessoa fica deprimida por estar com aquela marca”, explana a pesquisadora.
Os dados foram coletados em 2009. No Brasil, conforme explica a pesquisadora, ainda são escassos estudos nessa linha e em Sergipe a pesquisa também é inédita. Foram entrevistadas 20 das 100 vítimas atendidas no período. Isso porque só puderam participa aqueles com idade acima de 12 anos.
Ambulatório de Cirurgia Plástica do Huse é o maior do Estado (Foto: Marco Vieira/SES) |
Em relação ao sexo, os homens têm a auto-estima maior, com 6,29 pontos; as mulheres, 7,17 pontos. Despontam as queimaduras de 2º grau (que atinge a epiderme e a derme), que acometeu a 65% das vítimas, e de 3° grau (atinge a todas as camadas da pele chegando aos músculos e ossos), que representam 35% dos casos. Na maioria dos pacientes as causas mais frequenutes das queimaduras foram térmicas (50%), químicas (25%), elétricas (20%) e por atrito (5%).
Edilene Curvelo atribui o resultado ao que outros estudos na área já apontam: à relação com o apoio social vindo a partir de colegas, amigos, professores e, sobremaneira, da família. Isso sem contar com o atendimento profissional, que é realizado por uma equipe multidisciplinar – cirurgiões plásticos, anestesiologistas, fonoaudiólogos, auxiliares de enfermagem, enfermeiros, entre outros.
Clique no infográfio para ampliá-lo (Arte: Blog UFSCiência) |
Perfil das vítimas
Edilene Curvelo também é responsável por outro importante estudo que traçou o perfil das vítimas de queimaduras atendidas pelo Huse. A pesquisa foi desenvolvida no mesmo período que a da auto-estima, ainda em 2009, e teve como propósito descobrir como as ações de prevenção podem ser mais focadas e, assim, o número de acidentes diminuírem.
Os dados levantados apontam que o tipo mais comum de paciente atendido é jovem, de até 25 anos e proveniente do interior do Estado, que se queimou com líquido quente após um acidente na própria residência. Desses, 36% acabam recebendo um tratamento mais prolongado, por mais de duas vezes a cada mês. Os procedimentos são responsáveis pelos maiores gastos dentro do sistema de saúde.
“O problema da saúde pública, às vezes, é que a população não enxerga a quantidade de coisas que podem ser prevenidas e, se assim fosse, os ambulatórios também não seriam sobrecarregados. A chave de tudo é a prevenção. As políticas públicas direcionadas para isso devem ser intensificadas, e focarem não só as vítimas e suas famílias, mas a população em geral”, adverte a pesquisadora.
Por Diógenes de Souza
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