Vinte e seis amostras foram coletadas nas feiras da capital (Foto: Emsurb) |
Os resultados da análise microbiológica desenvolvida pelos pesquisadores indicam a contaminação por pelo menos quatro tipos de bactérias diferentes, todas decorrentes da falta de higiene nos processos de abate, transporte e venda do alimento.
Nas 26 amostras do produto coletadas no período de novembro de 2008 a maio de 2009, a principal ocorrência (em 65,4% delas) foi de Salmonella spp., uma das bactérias mais comuns em alimentos contaminados, responsável por graves intoxicações. Além dela foram encontrados coliformes termotolerantes em 52% das amostras, Escherichia coli em 46% e Staphylococcus aureus coagulase em 15%. Elas apontam a contaminação por fezes e suportam temperaturas altas, quando encontram a condição ideal de reprodução.
Os dados servem de alerta ao poder público, mas ainda não causam a devida preocupação nos consumidores. Isso porque, de acordo com a professora Rita de Cássia Trindade, que coordenou os estudos junto com a veterinária Gladslene Góis Santos e a também professora Luciana Aquino, o abate clandestino de animais e a venda livre sem qualquer preocupação com a higiene ainda faz parte da realidade sergipana.
O agravante desse cenário é que os consumidores parecem ter uma resistência cultural que os impede de verificar as condições em que o produto é exposto à venda. E por isso, segundo ela, os resultados não surpreenderam como deveriam. “A legislação existe e está adequada, mas precisa ser cumprida e fiscalizada com rigor. Mas enquanto as pessoas considerarem normal comprar a carne em condições inadequadas fica difícil até para o poder público exercer o seu papel”, alerta a pesquisadora.
Transporte irregular é uma das razões para a contaminação (Foto: Polícia Rodo- viária Federal) |
Consequências e cuidados
Rita de Cássia revela que vários são os danos que essas bactérias podem gerar na saúde humana. “Uma vez que são fonte de proteínas e variados fatores de crescimento, consequentemente são vários os problemas possíveis que podem decorrer da ingestão de produtos contaminados”, confirma.
Destacam-se, apenas com a Salmonella spp., as gastrenterites, cujos sintomas são diarréia, náuseas, dores abdominais e cefaléia; a sepse, infecção generalizada que pode levar à morte; e a febre entérica, mais conhecida por ‘febre tifóide’, que dura 10 a 14 dias após a infecção. Em alguns casos a pessoa pode desenvolver meningite.
Esses problemas podem naturalmente ser evitados caso haja uma soma de esforços entre poder público - no que compete à fiscalização com a definição dos parâmetros de qualidade e da conscientização dos feirantes para obediência aos critérios definidos pelos órgãos de inspeção - com a sociedade.
“A população pode ser mais criteriosa na escolha dos estabelecimentos observando se as carnes estão sendo preservadas na temperatura de refrigeração; se as condições visíveis de higiene local são razoáveis; se o vendedor usa luvas, toucas e máscaras etc., lembrando que as bactérias estão quase sempre em associação conosco (fezes, pele, cavidades oro e nasofaríngea) ou com o solo e outras sujidades”, orienta Rita de Cássia.
Além disso, é imprescindível que ao comprar a carne o consumidor imediatamente acondicione-a da forma mais adequada. Deve-se evitar que o produto fique exposto por muito tempo ao sol; guardá-lo na geladeira com a mesma embalagem que veio de onde foi comprado e misturá-lo com carnes de outros animais. “Na realidade tudo deve ser lavado antes de ser guardado em nossa geladeira; excetuando-se os ovos que devem apenas ser limpos antes de guardados e lavados imediatamente antes de usar”, recomenda a pesquisadora.
Por Diógenes de Souza
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